14/08/2020 às 08h51min - Atualizada em 14/08/2020 às 08h51min
Empatia no caminho
Empatia no caminho
Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que choram. Romanos 12:15
Nesse texto de hoje quero iniciar com essa intertextualidade com o texto bíblico para provar que apesar de parecer neologismo, a empatia faz parte dos ensinamentos do texto, considerado sagrado para aqueles que se denominam cristãos. Colocar-se no lugar do outro, solidarizar-se com o sentimento e situação do outro.
Apesar de o ensinamento ser antigo parece que muitos ainda não o compreenderam ou quando se expressam esquecem dele; também há um ditado que diz que a boca fala sobre o que o coração está cheio, assim, mesmo quando se usa a desculpa de que se falou sem pensar, não se oculta que falou-se sobre o que sentiu.
Desde o início da pandemia do novo coronavírus estamos numa situação ímpar da humanidade, onde vários contextos foram colocados a prova e a incerteza perante o inexorável é uma angústia na vida da maioria das pessoas.
Muitos falam sem conhecimento de coisas que não sabem, mas é importante saber que o que para alguns são dados estatísticos para outros são uma vida, são histórias reais de pessoas como todos nós que tiveram suas vidas alteradas, bagunçadas, desestruturadas, perdidas.
Pessoas que sofrem a perda de entes amados, o distanciamento dos amigos, a esperança de dias melhores num mundo melhor e mais humano. Pessoas essas que além de todo sofrimento das perdas precisam conviver com o mais triste lado do semelhante: a falta de empatia.
Dizer que a pandemia é mais fatal para idosos e/ou pessoas com outras comorbidades, num tom de alívio, não é humano para aqueles que perderam pais, avós. Dizer que a pandemia tem um lado positivo de nos colocar próximos de nossos familiares não é humano com quem teve seu convívio com familiares distanciado com um teste positivo para o vírus. Dizer que num futuro talvez sintamos saudades desse tempo é desumano.
Discursar que mortes são vontade de Deus e temos que aceitar as perdas, com total falta de sentimento é demonstrar apenas o nosso lado animal, desconsiderando a essência divina que deveria habitar o interior de cada um de nós.
Quantas coisas estão sendo ditas demonstrando corações que são egoístas e não conhecem nada daquele Homem que transformou água em vinho numa festa, chorou e ressuscitou um amigo morto; não se pode considerar um seguidor de Cristo aquele que não se solidariza com o sofrimento e a dor do outro porque ainda não foi atingido.
Talvez o número das pessoas que venceram a Covid seja bem menor do que aquele das pessoas que foram infectadas e mortas, pois todos aqueles que minimizam o sofrimento e a tragédia do outro, talvez sejam incuráveis.
Acredito que a humanidade perdeu para essa pandemia, muito mais que as pessoas mortas ou as seqüelas, ainda desconhecidas dessa doença. A humanidade perdeu a crença de que o outro pode sensibilizar-se, de que se pode aprender na dor e que essência da vida é o amor.
Além da vacina contra essa mortal doença será preciso descobrir como olhar nos olhos do semelhante e dizer que eu me solidarizo com sua dor e seu sofrimento. Aprender a alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram.